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Georgia Warr nunca esteve Sem Amor

Georgia Warr é uma jovem de dezoito anos que está indo para a universidade fazer um curso de Inglês, mas, diferente dos jovens da sua idade, ela nunca beijou ou teve relações sexuais na sua vida. Para ela, isso não era um problema até que, na festa de despedida do ensino médio, ela conta isso para os colegas de classe em um jogo de Verdade ou Desafio, e fazem chacota de sua vivência por nunca ter experimentado a vontade de fazer nenhuma dessas coisas. Seus melhores amigos, Jason e Pip, tentam animá-la dizendo que ela vai encontrar a pessoa certa para fazer ambas coisas no tempo correto, mas ela começa a sentir, ali, uma pressão imensurável para ter relações amorosas e sexuais na sua vida universitária. Afinal, a faculdade está aí para isso, certo?


Ela até tenta, nessa mesma festa, ter seu primeiro beijo, mas entra em pânico e acaba jogando o menino que achava ter crush desde a sua mais tenra idade em uma fogueira, queimando, assim, não apenas o garoto, chamado Tommy, mas também sua jaqueta favorita. Por alguma razão, ela fica mais chateada por ter perdido sua jaqueta do que não ter conseguido beijá-lo, o que a deixou aliviada, na verdade.


Quando ela vai para a faculdade em Durham, uma cidade ao norte do país em que ela vive, longe dos pais e morando no dormitório universitário, ela conhece Rooney, uma menina misteriosa que tem uma planta chamada Roderick e tem hábitos – considerados por Georgia como estranhos – de sair todas as noites e se enturmar com facilidade. Rooney é uma pessoa extrovertida, mas demonstra, logo no começo, ter uma profundidade inestimável, gostando tanto de teatro e de Shakespeare que chega a sonhar todos os dias com a possibilidade de participar da Sociedade Shakespeare na união estudantil de teatro da universidade. Sua nova parceira de quarto parece ser tudo o que Georgia queria ser, então ela pede ajuda a Rooney, para conseguir alguém que lhe faça se sentir atraída romântica e sexualmente, visto que Georgia está desesperada – pela pressão social e pela forma que ela a interpreta – para conseguir beijar e ter relações com alguém, qualquer pessoa.


Eu queria um amor para sempre. Eu não queria ficar sem amor.

Logo no começo do livro, Georgia conhece uma figura especial chamada Sunil, uma pessoa não-binária de pronomes ele/elu, que é presidente da Sociedade do Orgulho de Durham, chamando-a para participar da Sociedade. Ela, em sua crise de identidade sexual, não quer participar desse espaço, pois acredita que ainda pode gostar de meninos, embora nunca tenha sentido nenhuma forma de atração por eles.


– Tem algo errado com você – eu murmurei para mim mesma. Então eu sacudi a cabeça, tentando afastar esse pensamento. Esse era um pensamento ruim. Não tinha nada de errado comigo. Essa era eu. Para de pensar nisso. Para de pensar em qualquer coisa.

Este é um livro de autodescobrimento enquanto uma pessoa assexual e arromântica com uma relação negativa em relação a romance e a sexo. Embora Georgia queira muito ter romances e seja especialista neles em suas versões escritas, ela ainda sente que nunca conseguiria ter esses sentimentos. Sem saber se explicar o que sente em relação a isso, ela passa por uma jornada de autoentendimento com seus amigos que a leva a conhecer sobre os termos aroace e a caminhar por uma estrada de aceitação e reconhecimento do amor que tem em sua vida, embora esse amor nunca vá ser romântico.


Em muitas partes, me identifiquei com seus pensamentos e com seu sofrimento, visto que, como uma pessoa que se entende como demiaroace – demissexual e demirromântica –, às vezes eu penso que nunca vou encontrar o grande amor da minha vida e passarei a vida inteira sozinha, sem a perspectiva de ter filhos, casamento e coisas assim. Esse livro foi um ataque direto no meu estômago, muitas vezes me deixando mal enquanto eu lia, porque eu me identificava tanto com o que ela estava passando que chegava a doer.


Por exemplo, tem uma parte em que a personagem aceita que é assexual e arromântica, mas passa por um processo de luto por descobrir essa identidade sexual. Isso porque ela percebe que tudo o que foi prometido para ela como certo na vida – paixão, namoro, sexo, casamento com um homem, filhos, morrer juntos em cadeiras de balanço em um quintal enorme – não vai existir em sua vida. A sociedade havia lhe dito que tudo aquilo aconteceria eventualmente, mas… Ela não sentia isso. Ela sabia que não iria viver isso. E isso fez ela entrar em uma grande negação por um tempo.


Eu tinha passado minha vida inteira acreditando que o amor romântico estava esperando por mim. Que um dia eu o encontraria e então eu seria, totalmente, e finalmente feliz.
Só que agora eu precisava aceitar que isso nunca ia acontecer. Nada disso. Nenhum romance. Nenhum casamento. Nenhum sexo.
Havia tantas coisas que eu nunca poderia fazer. Que eu nunca nem ia querer fazer ou me sentir confortável fazendo. Tantas coisas pequenas que eu acreditava que eram simplesmente garantidas, tipo mudar para uma casa com o meu parceiro, a minha primeira dança na cerimônia do casamento, ou ter um filho com alguém. Ter alguém para cuidar de mim quando eu estivesse doente, ou assistir a TV durante a noite, ou viagens em casal pra Disney.
E a pior parte disso tudo: apesar de eu desejar essas coisas, eu sabia que elas nunca me fariam feliz, de qualquer forma. A ideia era linda, mas a realidade me dava ânsia.

Acho que o que eu mais gostei – e mais fez eu me identificar de verdade com ela – é que Georgia é uma personagem humana real, que faz besteiras em sua busca por autoconhecimento, chegando a machucar todos os seus amigos – Jason, Pip, Rooney e Sunil – em sua jornada para se entender melhor. Afinal, quem nunca fez besteira com os amigos para tentar entender alguma parte da própria personalidade? Isso nos faz ser humanos.


A mensagem final do livro é uma das coisas mais lindas que eu já vi. Depois de todo o sofrimento que ela passou, a partir dos Parte Quatro do livro temos cenas e mais cenas recheadas de amor, que comprovam que, mesmo não tendo romance, Georgia vai ficar bem enquanto tiver o amor platônico de todos aqueles que ela já amava.


Dê aos seus amigos a mágica que você daria para o romance. Porque eles são tão importantes quanto. Na verdade, pra gente, eles são muito mais importantes.

Eu comecei lendo esse livro com uma dor no coração, um sentimento de luto ao perceber que muito do que eu tinha como certo na vida – me apaixonar e virar um casal com alguém, eventualmente – talvez nunca me acontecesse, mas terminei sabendo que eu tinha muito mais amor do que eu imaginava. Acabei o livro chorando e querendo agradecer a todes mis amigues por me amarem e por deixarem que eu os amasse, de uma forma tão pura e despreocupada que parecia vindo direto da minha alma. Um amor sem obsessões, sem preocupações, sem jeitos complicados, que eu só conseguiria sentir por elus. Na verdade, eu terminei o livro e fui diretamente mandar mensagem para a minha melhor amiga, para dizer que a amava como nada no mundo e que ela era muitíssimo importante para mim.

Georgia Warr, mesmo tendo acreditado que viveria a vida Sem Amor, tinha amor o tempo todo. Ela tinha o amor na palma de sua mão e, quando começou a se amar e a se aceitar como uma pessoa que não tinha interesse sexual ou romântico, conseguiu ver isso mais claramente, já que tirou de si mesma a pressão social de ter que estar em um relacionamento romântico e sexual para simplesmente viver o amor lindo e puro que ela tinha por Jason, Pip, Rooney e Sunil, até mesmo fazendo planos de morar com todos eles depois do fim do primeiro ano na faculdade, o que demonstra que… Bem, não há nada melhor do que encontrar um lar em pessoas que te amam. Não há nada melhor do que perceber que, mesmo sem romance, não há como ficar sem amor.


Este é um livro para todes aquelus que se sentem perdides quando falamos sobre sexo e romance. Para todes aquelus que precisam de auxílio e uma mãozinha para falar: “Você não está sozinhe. Nunca estará. Está conosco. E nós lhe daremos todo o amor que precisa, mesmo que não seja como a sociedade deseja que você o tenha. Fique conosco e não será sem amor”. Por isso, acabou virando um dos meus favoritos da vida e eu o indico com todo o amor do mundo para todes ês jovens aroace que estão se descobrindo agora. Você não está sozinhe. Nós te amamos.


Resenha por Lolline Huntar'z

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