Que lugar essas pessoas ocupam nas histórias?
Sair do armário como LGBTQIAP+ é um verdadeiro sinal de resistência. No Brasil em que vivemos, levantar - literal e figurativamente - bandeiras de sexualidade e gênero pode significar muitas coisas, entre elas ser banido das reuniões de família, precisar se manter afastado dos amigos, ter de lutar pela própria vida quando, tudo o que queremos, é acolhimento e afeto. Hoje, gritamos a plenos pulmões pelo nosso bem estar e direitos, bem como para que as próximas gerações recebam um terreno já preparado, para que não precisem, um dia, estar na mesma situação que vivemos.
“Se hoje ando de mãos dadas com o Noel, mesmo com o medo sempre presente, mesmo sabendo que muitos ainda se escondem pela pressão social é porque um dia outros caminharam na minha frente, abrindo espaço.”
Apesar de hoje ainda termos muito o que conquistar, as gerações que vieram antes da nossa fizeram sua militância valer a pena e abriram os caminhos para que nossa luta fosse um pouquinho menor. Mas onde estão essas pessoas? Onde estão as primeiras gerações da comunidade LGBTQIAP+? Que espaço midiático fala sobre elas? Onde elas aparecem e têm destaque ou, sequer, são mencionadas?
As pessoas idosas heterossexuais e cisgênero sofrem etarismo, são negligenciadas pelas políticas públicas, abandonadas pelas famílias, segregadas pela sociedade… Em se tratando da pessoa idosa LGBTQIAP+, por quem ela seria neglienciada, abandonada ou segregada, se por toda a sua vida foi ensinada que não era digna de construir uma família e, agora, envelhece sozinha, abandonada à própria sorte, como se não o merecesse afeto que lhe foi negado a partir do momento em que saiu do armário?
“Construímos durante anos uma resistência, uma comunidade, um lugar para que as próximas gerações se sentissem mais livres para serem como as borboletas que voavam de dentro de mim e se transformaram no sentimento mais nobre e puro que é o amor que sinto por Noel. Queria que todos os jovens sentissem isso. Tivessem a liberdade de ter alguém do seu lado, amar essa pessoa verdadeiramente e ser amada verdadeiramente por essa pessoa.”
No conto Um Noel para mim, o autor Lito Garcia nos apresenta Noel e Pascoal, que estão casados há 25 anos. Os protagonistas não deixaram de lutar contra preconceitos vindos de fora, mas também precisaram aprender a viver juntos - e viveram por muito tempo.
“Comemorar por estarmos juntos em um ano onde nossa existência estava em constante perigo é, no mínimo, libertador. O perigo ainda não passou, creio que para pessoas como nós, o perigo estará constantemente batendo na porta. Entrando por uma chaminé inexistente. Ocupando espaços que a paz deveria ocupar.”
A indiferença que a sociedade tem pela pessoa idosa é refletida nas grandes mídias, especialmente no entretenimento. Em quantas séries, filmes ou livros vemos as pessoas idosas vivendo sua vida plenamente e não sendo representadas apenas como um fardo para a família? Agora uma pergunta ainda mais difícil: em quantas dessas produções esses personagens são LGBTQIAP+?
As mídias visuais são o movimento perfeito para controle indireto das grandes massas, elas moldam opiniões sociais e políticas e fazem parte do lazer de muitas pessoas pois chegam com facilidade às casas. E não falo apenas de assinaturas de canais de televisão ou serviços de streaming, que têm se tornado cada vez mais comuns, mas a TV aberta, que apresenta todos os dias da semana um material audiovisual para quem está do outro lado assistindo.
“Foi com Noel que voltei a ser o Pascoal. Voltei a sentir vontade de viver. Voltei a amar o canto dos pássaros. O som do piano, voltei a jogar xadrez, redescobri meu gosto por escrever.”
A influência do entretenimento midiático - visual ou não - sobre os consumidores é extremamente importante para apresentar uma realidade diferente e, às vezes, distante da que vivem. É a oportunidade de apresentar a essas pessoas que, apesar de terem sido, na maior parte do tempo, representadas como seres estáticos apenas esperando pela morte, vale a pena viver a vida ao lado de quem se ama.
Um conto necessário.
Nossa, amei o texto. Eu realmente nunca tinha parado pra pensar nisso. Você poderia fazer outro texto indicando obras que tenham pessoas idosas LGBTQIAP+